sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Resenha da minha irmã.


RESENHA DE MEMÓRIAS DE MINHAS PUTAS TRISTES DE GABRIEL JOSÉ GARCIA MÁRQUEZ

Rosângela Sá dos Santos Carneiro

Gabriel José Garcia Márquez em 2004 escrevia Memórias de minhas putas tristes, a história é dividida em cinco capítulos e é narrado por um homem, em meados da década de 30, em comemoração ao seu aniversário de 90 anos. O livro trata das reminiscências de um jornalista que viveu a margem da sociedade sem nunca ter tido o interesse em sair da mesmice ou como diria a juventude da época não querer evoluir com o tempo. A casa que o pai comprou em leilão público no final do século XIX, alugando o andar de baixo para lojas de luxo de um consórcio de italianos, e no qual reservou o segundo andar para viver feliz com a filha de um deles.  

Aos dezenove anos sua mãe o levou pela mão para ver se conseguia publicar no El Diario de La Paz uma reportagem da vida escolar. Passados anos descobriu que sua mãe pagou não somente àquelas publicações como as sete seguintes e ao descobrir era tarde para se cobrir de vergonha porque suas crônicas semanais voavam com asas próprias.

Após a morte da mãe tísica aos 50 anos, do pai que amanheceu morto em sua cama de viúvo no dia que foi assinado o tratado da Neerlândia, que pôs término a guerra dos Mil Dias e a tantas guerras civis do século anterior, continuou a morar na casa, mas sem se preocupar com os cuidados que deveria dar ao imóvel que foi envelhecendo junto com ele.

Durante quarenta anos foi domador de telegramas do El Diario de La Paz, possuidor de uma aposentadoria resultante deste ofício, era professor de gramática castelhana e latim, conhecido pelos alunos como Professor Desolado Outeiro e só descobrindo o apelido anos depois. Escritor de crônicas dominicais no El Diario de La Paz que complementa sua parca renda. Sócio fundador do Centro Artístico, admirador de arte e possuidor de cultura, além de precioso ouvinte de música clássica, gosto herdado de sua mãe, alem da caligrafia romântica que mantinha em suas crônicas escritas a caneta de pena, cultivando a alegria do passado. A personagem descreve seus arroubos sexuais desde os 12 anos e que essas mulheres que não o deixaram ter tempo para o amor porque sempre pagou para ter esses deleites e se acontecesse com outras mulheres sempre pagava, mesmo que elas jogassem seu dinheiro fora. Apesar da ideia de escrever a lista de suas misérias na cama, o título cai do céu, Memórias de minhas putas tristes. Somente duas mulheres no livro são firmes com ele, a primeira é sua mãe por quem tem adorável veneração e a segunda Ximena Ortiz que o conduziria a um casamento se não tivesse ido embora do país e o deixasse para trás reaparecendo vinte anos depois.

Aos noventa anos decide presentear-se com uma noite de prazer com uma virgem, que julga ter a capacidade de proporcionar-lhe o “início de uma nova vida, e numa idade que a maioria dos mortais está Morta”. (Márquez, 2004, p11).

Ao pedir a Rosa Cabarcas a indicação de uma jovem virgem e após horas de espera na véspera de seu aniversário e de uma resposta afirmativa, surge a jovem que o jornalista denomina de Delgadina, a filha do rei, canção entoada por ele enquanto vela o sono da moça, chamada pela Dona da Casa  e menina. Moça pobre e simples que cuida dos irmãos e trabalha numa fábrica como pregadora de botões. O jornalista utiliza-se do quarto da casa de Rosa Cabarcas e dele faz seu reduto de encontro com a jovem que, apesar de não ter nenhum relacionamento sexual o jornalista se vê enredado pelo amor, sentimento este que resulta em ciúme, ira, acusação de traição, os devaneios de um homem que não conheceu o amor na tenra idade, mas ao senti-lo ganha força e ânimo para viver até os cem anos.  Encontra uma antiga amiga, Casilda Armenta e após contar-lhe as desventuras ela o aconselha a retomar seus poucos anos com a jovem. Isso resulta num acordo entre o jornalista e Rosa Cabarcas, cujo objetivo é quem morrer primeiro fica com os bens do outro e cuida da jovem.

Nota-se claramente que o romance trata da questão da idade, do desrespeito, do preconceito em relação à velhice e que nesta idade podemos perceber o despudor de ficar apenas a contemplar a amada desnuda, pois enquanto a jovem dorme ele a contempla, lê para ela, cuida amorosamente de seu sono. Esse amor despudorado que leva os mais jovens e incautos a cometerem loucuras atrozes e desvarios. Essa narrativa surge justamento no momento em que a degeneração do ser o está consumindo pelo tempo. E que ao descobrir o amor muda o seu próprio jeito de escrever as crônicas de modo mais apaixonado que leva o jornalista a ser aclamado e reconhecido pelos leitores.

Nós latino-americanos somos maus vistos pela Europa por sermos considerados seres primitivos e sem civilização. O livro mostra que a sutileza do assunto é absolutamente inteligente, sem preconceitos, sem exageros ou desatinos. A obra é divertida e bastante criativa, independente do caos das lutas sangrentas pela liberdade alguém era feliz todas as noites até morrer, pois a jovem também o amava do fundo do ser e da alma.

Este livro demonstra um lado obscuro de um jornalista que não possui formalismo e nem tem compromisso com um ideal político, viveu do jeito mais promíscuo e não deu nenhuma importância as causas do seu país. Passou por guerras e guerrilhas mais preocupado em viver os momentos sexuais que seu dinheiro poderia pagar. Contrário exatamente ao autor do livro que teve seus familiares ligados às questões políticas. O avô de Gabriel José Garcia Márquez era veterano da Guerra dos Mil Dias. Gabriel nascido em 1928 teve uma vida atribulada na infância, pois seu pai era o oposto do que seus avós queriam para a filha, embora recheado de histórias que sua parteira contava sobre o vilão que era sempre o ditador Juan Vicente Gomez. É um importante escritor colombiano, jornalista, editor, ativista político que teve sua vida atribulada como correspondente em jornais da Europa, em Nova Iorque foi perseguido pela CIA por suas críticas a exilados cubanos e suas ligações com Fidel Castro isso o leva a mudar-se para o México. Em 1981, volta à Colômbia e é acusado pelo governo colombiano de colaborar com a guerrilha. Em 1982 recebe o Prêmio Nobel de Literatura. Contrário ao jornalista do livro Gabriel José Garcia Márquez tem simpatia por movimentos revolucionários da América Latina. Em 2006 apoiou juntamente com outras figuras públicas a independência de Porto Rico. Em algumas ocasiões foi mediador entre governo colombiano e as guerrilhas.